Estava eu a buscar algo para fazer em uma cidade pouco conhecida de um interior do mais populoso estado de meu país. Por força maior, nada parecia acontecer até que ,por volta da meia noite, finalmente me bate a fome da madrugada e tenho como que guiado por uma força, a não saber de onde vinha, pergunto ao gerente da noite do hotel onde me hospedara onde poderia lanchar. Respondeu-me de pronto que havia perto dali uma algo-padaria misto de lanchonete e mercearia que de certo estaria aberta por funcionar 24hs seu relógio de ponto.
Sigo tranquilo por uma rua larga do centro desta cidade que leva o nome de santo, o mesmo nome daquele que mudou a história dos hebreus no Egito, e do pai adotivo de Jeová ("Iavé", 'aquele que é') mais conhecido no ocidente como Jesus Nazareno Rei dos Judeus (I.N.R.I.).
Para encurtar minha prolixidade compulsiva, algo ou alguém caminhava em meu encalço e de pronto tenho meus sentidos aguçados e glandulas a liberar tantos hormônios, tais como a adrenalina, que estaria pronto em poucos centésimos de segundo para dar um novo sentido a reação ataque e fuga. Algo que provem intitivamente sem intenção ao experimentar de um sentimento que todo ser humano conhece: o medo.
Bem, para minha surpresa um ser humano me diz com lingua mista de presa e ébria me interrogando com um "hei mano pode me dar uma coisa aí para eu enfortecer?" a última palavra não foi exatamente esta mas era algo similar e com um frapê de gíria paulista ou legítima paulistana.
Meu sangue esfriou, não mais de medo, pois percebi naquele ser que beirava a inexistencia de tão magro e desvirtuado de expressão ou sentimento, seja pelo abuso de substâncias para torpor ou por esconder da realidade dura e cruel de um mundo que lhe foi vingativo e infiel.
Então por ausencia de um medo que fugiu ao perceber que seria vítima de meu coração, e não o contrário, disse para ele fingindo desprezo e apertando o passo que estava com pressa, fome e frio, além de que não queria me molhar na chuva que estava prestes a cair de um céu que nublado dispensava dotes de Nostradamus para prever que "água iria cair do alto", falei exatamente: - Se quiser falar comigo me acompanhe.
Achei que ele não iria ter forças ou sequer equilibrio para me acompanhar, mas para minha surpresa quanto mais apertava o passo mais ele respondia com presteza ao interrogatório frio e ingrato que proferi a suas lembranças. Tratei-o como o mundo havia tratado, sem piedade ou compaixão, ou como dizem em minha terra: sem dó!
Quando que andando bastante me deparo com duas "meninas" de mais de 20 anos que estavam paradas em uma esquina, vestiam roupas ousadas e olhares sensuais que convidavam o imprudente e pouco vigilante animal dentro de mim, o lobo, a uma noite de sentimentos efêmeros, carnais e que comprometeriam os poucos trocados que levava no bolso.
Perguntei as moças sobre a padaria e se realmente valeria a pena andar até lá para comer, uma delas me responde com um sorriso malicioso e carnudo que ficava logo a frente e que estaria aberta. Dou boa noite agradecendo a informação com um "fica com Deus" ao me distanciar virando de costas, ela se insinua perguntando se não aceitaria um programinha para aliviar a noite e meu cansaço me chamando de gatinho. Como que exercendo minha curiosidade, propria de um cientista que não restringe a vida a um laboratório, questiono quanto valeria a vida dela naquela noite e ela me responde que a vida nesta cidade valia muito pouco e que custaria as minhas economias apenas 70 unidades de real já com a hospedagem por toda a noite.
Olhando para trás afirmo que já estou morto para esta atitude e que meus centavos já estavam comprometidos. Segui em frente sem mais olhar para trás e só me contentei quando chegando a panificadora peço dois pingados e um pão com mantega para dois.
Enquanto degustava os 50 centavos de pão, parte que me cabia, e um real de café com leite, peço mas dois sanduiches de hamburguer e quando ao terminar ao terminar o café, o leite, o pão, a manteiga requisito um refrigerante de 600ml. Eu e o homem que conheci na rua jantamos aqueles pães e carnes, bebemos daquela bebida, me custou barato saber da vida daquele homem, ele se vendeu por pouco. Pedi a conta e me dirigi ao caixa logo após receber a negativa do homem ao lhe peguntar se ainda tinha fome. Paguei e caminhei ao hotel.
Ao me despedir do irmão lhe desejo tal qual o famoso programa televisivo norte americano: "BOA NOITE E BOA SORTE", ele me responde: "Mano você tem um bom coração então vou ser sincero, dava pra me arrumar 5 reais preu tomar uma breja antes de dormir?", dominado pela impotência decidi não ficar inerte lhe disse : "você é precioso irmão e se você sobreviveu a dez anos de drogas é por que algo está guardado para ti". Percebi que pouca diferença faria se eu desse os reais que me pedia, pois outro jeito ele arrumaria de conseguir qualquer droga que fosse. Então orei e pedi. Lembrei do frio que meu tio, que também carregava nome de santo, sentia pela manhã na cidade que leva o nome de batismo do 13o. apóstolo, lembrei que meu tio o cobatia o frio com pinga. Botei a mão nos bolsos na esperança de não encontrar dinheiro algum, para minha surpresa dois reais saltam para fora do bolso direito e caem no chão, sendo molhados pela garoa. Digo ao ser vivente: "Olha irmão aqui estão dois reais e o que você você vai fazer com eles não me interessa, mas te lembro que no mesmo lugar onde comemos você poderia tomar o café da manha no dia que há de amanhcer em poucas horas" completo e encerro o diálogo dizendo: "claro que você também pode sacrificar o café da manhã e tomar uma cachaça hoje para domir", desejei boa noite mais uma vez, sorte na escolha e Deus no coração.
Caminhando para dentro do quarto e tentando me desvencilhar do sofrimento daquele que tinha a mesma idade que eu e se chamava Sérgio, aquieci meu coração com a seguinte palavra: "Dei ouvidos e não foi suficiente, dei comer e beber e não foi suficiente, dei mais que tudo isso, dei amor e uma escolha a ser feita."
Oro hoje para que Sérgio encontre um caminho e escolha um destino que não o faça virar apenas mais um número nas estatísticas de jovens que morrem vitimados pelas drogas.
Mas consciente,vigio e temente sei que "não adianta olhar pro céu / com muita fé e pouca luta" afinal já cantou Gabriel Pensador há mais de oito anos atrás.