assumi ser... desde que criança, me descobri velho... pois nasci velho, consumido por pensamentos que resultaram de uma infância sempre a espera do pior. Primeiro um pássaro, não recordo bom, de que espécie, pois manchado de negro, o sangue negro, combustível do desenvolvimento agonizava, tendo a morte à espreita, vítima de mais um derramamento de óleo, desnecessário em uma praia distante de meus pensamentos, mas perto dos sentimentos que já espreitavam meu coração. Depois, a água, anuncio apocalíptico de uma guerra que já começou. A falta dela seria anúncio, fruto do desperdício e irresponsabilidades para com as matas que qual centuriões protegem a mãe de todos os frutos, animais e vida.
Então me veio outro Antônio, o dito
Conselheiro, que surgindo de um livro de história me ensinou o significado do
milenarismo, e de uma cultura que implica na necessidade de um fim próximo,
para que o homem perceba que realmente estamos no fim... implicando então numa
política de acerto de contas, da expressão do medo... medo do incerto, do que
não se afere, se vê, e que só enxerga o coração do puro de fé.
Então o anuncio do bug do milênio, de
outras ditaduras que surgiram com interesses não menos escusos daqueles que
lucraram com a morte do mergulhão... E percebi que a propriedade, a necessidade
que o homem tem de ter, prazer engatilhado pelo desejo, querer irredutível e
mundano, nos distraem do que realmente importa.
Pequenas, simples, e tão importantes para
uma vida de paz, contentamento e alegria... são o que realmente nos protegem do
medo do incerto, do depois, do além...
A paz que hoje habita meu peito, de jovial
cidadão, pacato e contente com o pouco, me veio de uma consciência de que é
preciso ter medo para sentir o abismo interior que habita todo e qualquer
vivente... e que a necessidade de preencher este vazio é suprida de diversas
formas.
Coisas vazias, qual carro, praia, tv,
futebol... distrações vis para um homem que procura preencher a aridez
espiritual e que a cada passo que dá, frustra seus anseios, pois caminha na
direção contrária, pois é incoerente preencher o íntimo com algo tão concreto.
Antônio me disse em sonho, que o profeta
veio, e vem todos dias para aqueles que sentem sua presença... para aqueles que
perceberam que nunca o etéreo será preenchido com o etílico, de cada posse, que
inebria ainda mais a mente do humano mundano.
Longe de mim, pregar a pobreza absoluta, e
só entenderia desta forma estas também humanas palavras, aqueles que realmente
já comeram muito pão e desfrutaram de muito circo. Pelo contrário, é preciso
comer, beber, sorrir, cantar, vestir e chegar... mas não fazer disso o caminho,
e sim o meio.
Continuo, jovem, rebelde, e incendiário...
pois o que guardo, é a imagem do pássaro... pois por ele não pude fazer nada...
Portanto, me resigno a cantar a música do
pássaro que um dia cantei em viagem ao desfrutar as privações do tempo, e a
tempo, perceber na atenção e sensibilidade de uma criança a esperança no
amanhã.
Dedico ao tio Manduca, pela inspiração... pois estas palavras foram fruto de uma crônica publicada na revista Artigo 5o (www.revistaartigo5.org.br) que está logo abaixo... e pela graça de ser o responsável por meu primeiro impresso...
A canção é "Pássaro Proibido" em http://youtu.be/TWWnquASxxU .