sábado, 16 de junho de 2018

Me desculpem... Mas não vou me desculpar.

Eu sou do tempo, em que dentro de casa, com meu irmãos "o couro comia"... "Qualquer chute era voadora" e "qualquer coisa abaixo do pescoço era canela" quando jogávamos bola... Também o eram, os debates... Verdadeiras verborragias, que beiravam a violência, em busca do "ter razão". 
Mas não importava o tamanho da discórdia, ou o quanto estavamos "de mau", um do outro... Quando alguém de fora ofendia um da familia... Parecia que nunca havia tido peleja entre nós, uma vez na vida sequer, seja por quem havia sido o maior jogador da selecão, ou quem de nós jogava videogame melhor. "Desciamos o cacete", e no fim, só sobrava aquele sentimento "de dó" para com quem mexeu com o "quinteto marreta".
Assim como era lá em casa, hoje somos todos contra o resto do mundo...
Sejamos todos juntos...
Porém, da mesma forma que usurparam o sagrado manto canarinho para fazer de farda no panelaço, outros defendem, que agora, não nos confraternizemos, nem regozigemos com a beleza do futebol.
Então desculpa Brasil por não comprar a camisa oficial da seleção... "Foi mal!"... Não vai caber no orçamento.
Mas não... Eu não desculpo... E me desculpa por não desculpar...
Mas para por ai... Não vou me desculpar por exercer meu patriotismo... Não vou pedir desculpas por torcer para que o brasileiro que vota com o estômago, ou melhor, por bem dizer : "com o bucho", como eu, sinta uma das poucas alegrias diantes de toda precariedade em que é obrigado a viver.
Não me desculparei por viver mais um carnaval... Outra pequena alegria do pobre como eu.
Não me desculparei de acender a fogueira em homenagem a São João, aproveitando o regalo dado ao santo, para comemorar mais uma vitória da seleção canarinha.
Não me desculparei por me divertir com as peripércias do canarinho pistola... Nem tampouco por xingar o juíz que não marcar devidamente aquela falta que decidiria a partida.
Não me desculparei de ficar triste caso o Brasil não seja campeão... Mas prometo: não conterei os gritos, quando do apito derradeiro, na final, sendo o Brasil campeão mundial de futebol... Ousarei perder a voz e a enfartar a cada gol marcado, seja ou não, por um ricaço, que muitos acham, que já esqueceu o que é ser pobre.
Acho que é essa questão... Estão ali muitos que vieram de baixo... E como todos os heróis que vieram de lugares improváveis, causam inquietude por não se adequarem aos padrões que são vendidos por uma sociedade que dá mais valor ao que parece, do que, ao que verdadeiramente se é. São personagens emblemáticos, muitas vezes toscos... Desajustados... Alguns eram até mesmo alcoólatras ou aleijados.
Mas informo aos medianos de nossa pátria, que quem foi pobre não esquece nunca, a pobreza, a privação, e inexoravelmente o que é a miséria. São situações degradantes que deixam uma marca visível, uma chaga tal qual os grilhões do navio negreiro deixaram, tal qual as cicatrizes do açoite.
E estas marcas podem até um dia se apagar da pele, se esconder um pouco do semblante. Mas nunca irão de desaparecer.
Não me desculparei mais… Já cumpri a cota, do pobre que sou, de me desculpar por me explorarem, de pedir perdão por explorarem minha ignorância, de me iludirem com shows pirotécnicos, para me roubar o que não tenho. 
Me deixem curtir o pouco que me resta, sem me desculpar:
Meu carnaval, os festejos de São João, minha cachaça e meu futebol.