terça-feira, 4 de fevereiro de 2014
Faz sol em Nashi Ville
Vaga por ai um eu que em si mesmo nunca se coube.
De todo responsável por esse instante de "não sei",
Causando destarte a impressão de que nalgures soube,
Malgrado viva a se perguntar quem sou, quem fui, quem serei.
A "A alma humana é um mistério", já o disse Pessoa.
Então que nome ha-se-ia de dar a tão insólito relato,
A essa explosão de não fatos que como pássaro voa,
Um eu estranho que até há pouco vivia no anonimato?
Especula-se sobre suas vidas,
Especula-se sobre sua calma,
Especula-se sobre suas feridas
Especula-se sobre sua alma:
- Contam-se, que desejou voar,
- Contam-se, que chegou a amar.
- Contam-se, que tentou se matar
- Mas de certo é que viu o mar.
- O que ouviu das sereias?
- O que ouviu das areias?
- O que ouviu das mareias?
- O que ouviu das candeias?
- Contam-se, que das sereias poesias
- Contam-se, que das areias magias
- Contam-se, que das mareias Marias
- Contam-se, que das candeias orgias
Viu, viveu e sentiu o mar, tanto o seu quanto o alheio.
Mas o que lhe ficou do mar foi um tanto imaginário,
Ficou com o todo real e com aquilo que não lhe veio,
Histórias hoje guardadas dentro de se requilário.
Sagres, dragões, o porto incerto.
Tentou, então, entender, o mar de Fernando Pessoa
Milagres, lições, Dom Sebastião - O Encoberto...
Fragmentos do que a seu ver seria o amar que ecoa
Também no mar de si ondas e tormentas se agitam
E com cavalos-marinhos enfrenta piratas visionários.
Os farois costeiros já não ajudam, mas sim limitam
Houvera pois de contar com marinheiros imaginários.
Quando então do mar mais calmo, e sem pensar em milagres.
Perplexo, um tanto sem rumo, pensou - "onde irei?"
Ficou-lhe clara a ausência, o desprover da ousadia de Sagres,
Mais do que isso, sem a obstinação de um Hemingway
Reza a lenda que tenha estado divagando
E que ao voltar do planeta onde estava,
Parecia certo que havia alguém falando
E que antes de partir havia alguém que falava...
Pensou: "O que fiz onde estive?
Belo tema para uma canção.
Eis o drama de quem convive
Com os fantasmas da dispersão..."
Eis que, em resposta, disse-lhe um amigo:
"Todos nós seres vivos viemos do mar"
Eis também, que a propósito lhe digo,
Todos nós seres vivemos viemos para amar
Ainda que não tenha redarguido, complementou a fala
- "Dai nossa ancestral atração pelos oceanos".
Sim, sim, sei o quanto aquele dito em si cala.
Sim, e quão inerente é isso aos seres humanos
Armando Coelho Neto (Tio Manduca)
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