Estive pensando em você...
em frente a um prato vazio
e uma xícara com um café meio frio.
Um gato se esfrega em minha perna...
um gato que não reconheço mais como meu.
Ele pede atenção e carinho com seus olhos que me olham por inteiro,
mas que só vêem meio homem,
uma sombra,
à sombra do que já fui.
Desisto do café, desisto das manhãs, desisto do gato...
aliás nem desisto dele, me roubaste o gato...
bem ele tivesse a chave da porta que me separa do mundo,
bem ele soubesse teu endereço,
sairia pela porta, sairia ao mundo, ao mundo que desprezo,
ao mundo que te levou de mim.
Sento no colchão forrado com lençóis...
que ainda guardam teu cheiro,
ainda guardam o suor, de nossa última noite...
E no travesseiro, três fios de cabelo e o teu perfume.
Não escuto o estopim...
minha cabeça despenca sobre o travesseiro...
e meu corpo sob o lençol...
antes brancos, agora encarnados...
testemunhas de meu pranto,
agora também do fim da minha dor.
Uma vez amado,
agora é órfão,
o gato.