sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Tirolerheim...

Por muito temi o fato de estar sempre vítima da inquietante busca pela verdade, mas como disse a cerca de dois mil anos um jovem galileu, e que está registrado no livro de Lucas, capítulo quarto, verso 23: "Médico, cura a ti mesmo; todas as maravilhas que fizeste em Carfanaum, segundo ouvimos dizer, faze-o também aqui em tua pátria.".
Lembro de diversos problemas por que passei e recordo que sempre que permiti a esse mesmo galileu que advogasse por mim ele o fez com propriedade e sem pedir nada em troca. Estava distante de casa, e sem ninguém por mim no terceiro dia de um mês de agosto, a sete dias de meu aniversário. Pronto a ser despejado do albergue onde me encontrava e cheio de vergonha, pois havia infringido norma daquele lugar, por mínima que fosse e extranha a minha cultura brasileña ao ser questionado pelo motivo que tinha me levado a realizar tal atitude, respondi sem pensar muito, em inglês, mesmo sabendo que o interlocutor não receberia a mensagem de maneira adequada, pois esta seria traduzida para a língua germânica, para então chegar a seu ouvido. O que respondi se bem me lembro foi: "Se fizesse o contrario, não seria uma atitude cristã.". Não precisei citar leis locais, lembrar meus direitos, ou justificar de qualquer forma a atitude impensada que havia tomado, apenas me referi a algo que é entendido em praticamente quase todos os rincões do planeta, o que é ser cristão.
De pronto o tratamento mudou, não mudou a consequencia de meus atos mas o tratamento a minha pessoa, acredito que devido ao fato de que não viram maldade em meu ato, bem como devem ter percebido que estava sendo sincero, algo difícil de se encontrar nos dias de hoje. Aquele austero e por vezes intragável morador e administrador do albergue se despediu de mim me dando todas as cordenadas e tentando ao máximo me ajudar com minha pesada bagagem, me retribuiu o sorriso que deixei de despedida, algo que ele não tinha feito até então desde que havia chegado no albergue 33 dias antes. Trocou naquele momento de despedida dez vezes mais palavras comigo, mesmo que em alemão, do que havia me permitido escutar em 33 dias de convivência. Éramos dois, eu um brasileiro falando inglês, ele um austriaco falando alemão, e apesar da dificuldade entendemos que não ficariam mágoas ou quaisquer assuntos pendentes entre nós, apenas a certeza de que tudo estava resolvido, sanado e que era hora de seguir em frente.