sexta-feira, 15 de julho de 2011

O homem e a moeda...

Dou importância muita ao que pouco importa. No mundo as avessas dos dias de então menospreza-se um bom dia, despreza-se uma boa tarde e se releva uma boa noite de sono ao lado de quem se ama. Mundo onde se coloca os pés pelas mãos... Um limpador de para-brisas que longe de ser um menino e mais para pai do que para filho, algo denunciado pelos parcos grisalhos que lhe decoravam o "simblanti" me pede uma moeda... Minha contaminada humanidade me faz ser ágil na negativa, mas ele insiste e quando desiste me mostrando as costas e a com a aba do boné apontando para o asfalto... sou de súbito atacado por uma vontade de fazer diferente... remecho os bolsos em busca de algo e três moedas douradas de vinte e cinto centavos cada preenchem minha mão de dedos longos e unhas que deveriam estar um pouco mais apresentáveis... me faço avarento, sovina, e escolho apenas uma entre as três... Chamo o homem e lhe estendo a mão, depositando em sua a moeda que por enquanto ficaria solitária na mão do limpador de vidros de automóveis... O homem olha para mim sorri e agradeçe desejando que Deus me de sua benção... Mas o que me marcou foi a alegria expressada por aquele, quando este vira de costas ergue as duas mãos em sinal de vitória, ergue a cabeça e a aba de seu boné não mais aponta para o chão que molhado pela chuva serve de plataforma de lançamento para carros alucinados que percorrem a grande avenida, mas sim para o infinito, para as nuvens que depositam a garoa desta manhã sobre seu rosto sofrido... Já vi pessoas ganharem bênçaos muito maiores e reagirem com desagrado... minha vontade depois de corrida uma lagrima pelo canto do rosto foi de fazer o retorno e dar cada uma das outras duas moedas que sobraram para que essas voltassem a fazer companhia aquela outra, apenas para presenciar aquele milagre mais duas vezes... Aí sim, meu dia que começou contente se tornaria extasiante, "nirvânico"... Talvez eu nunca me recupere deste momento e com certeza nunca mais serei o mesmo... Enquanto relato em minhas letras o ocorrido me debulho em lágrimas e mesmo que isso não esteja ocorrendo literalmente meu coração diz que o sentimento é o que importa e que isso deve ser vivido, mesmo que apenas para mim... Não sei mais se verei aquele homem ou se descobrirei um dia algo sobre sua historia... Mas sei algo que ninguém há de me tirar: ele fez parte de minha vida e espero nunca perder a chance de recordar aquele momento ímpar...