sábado, 19 de junho de 2010

Crônica de tio manduca...

"Aí está a cronica do tio manduca, que esqueci de postar.

Segue em vários pedaços porque não tive tempo de ajeitar.

Só vai terminar por ler quem realmente quiser acreditar.

São rimas pobres mas foi o que deu pra arrumar,

de tanta era a vontade de teclar."




Teimosia Andaluz, por favor não leia!
Não serei o primeiro nem o único a morrer de forma reticente, como um projeto inacabado, a exemplo dos elefantes brancos de estradas que ligam nada a coisa alguma. Pouco importa para a oficialidade, que não eu tenha sucumbido à corrupção sistêmica. E não me consola me dizer que “sou capaz de decolar um Boing num quarteirão”...
Armando Coelho Neto
Bafana, bafana! Minha vuvuzela está solta! Afinal, sou o resultado do que como, do que li, do que vivi. A recíproca é verdadeira, de forma a ser também o resultado do que não comi, do que não li, do que não vivi. Nos dois casos, pode por o verbo no presente e o resultado será o mesmo, ou seja, uma massa amorfa, insípida, inodora, absolutamente indigesta, irremediavelmente inadministrável por mim ou qualquer outro ser vivente. Sou o começo de alguma coisa diante do sentimento de algo inacabado - e isso é uma constante.
A este ser-ou-não-ser costumo agregar a condição de sonhador. Afinal, sonhei, quando jovem, com um País para mim, depois para nossos filhos, netos, bisnetos, um sonho que abrange um renitente e insaciável sentimento sócial, posto que a miséria crônica me é algo absolutamente angustiante. Afinal, vi crianças pedindo esmola nos semáforos da Avenida Norte, em Recife, que lá envelheceram. Os que se revoltaram, depois de tanto “não”, enveredaram pelo roubo, pelo tráfico, foram atropelados, estão presos ou mortos. Mas, isso aqui não é uma crônica policial nem um manifesto político. É talvez um...
Sou, pois, o resultado dos lugares onde “jamais estive mas não canso de sonhar”, de que fala Eduardo Dusek. Aliás, uma máxima que se aplica a tantas pessoas e não serei o primeiro nem o único a morrer de forma reticente, como um projeto inacabado, a exemplo dos elefantes brancos de estradas que ligam nada a coisa alguma. De tão complicado que sou, de nada me consola alguém vir me dizer e já disseram ( não preciso citar nomes)  que “sou capaz de decolar um Boing num quarteirão, mas que na hora da tempestade ninguém sabe pra que lado irá voar”. Exageros à parte, é claro que sabem, pois voarei para o lado da justiça, do bem comum, ainda que nada disso sirva para a operacionalidade oficial. Pouco importa para a oficialidade, que não eu tenha sucumbido à corrupção sistêmica e que continue a acreditar que a lisura pode ser o caminho, um referencial de vida ainda que precário ou outro sonho. Pouco importa, agora, não para eles – os oficialistas, mas para mim, que eu não tenha chegado ao meu limite. Afinal, a visão de que ser corrupto é apenas receber dinheiro para fazer ou deixar de fazer algo em detrimento do interesse público, soa-me um tanto monetarista, muito afeta ao cristianismo capital. Papai, que tinha vergonha de dever na quitanda, dizia haver gente que se corrompem sem por um centavo no bolso. Sábio Armandão!
Pouco importa que a tudo isso chamem de romantismo. “Noutras palavras sou muito romântico”, já dizia um imbecil amado pelo País afora, o mesmo imbecil a quem sucumbo e reverencio depois da terceira dose. Sou portanto, também, o antes e o depois da dose e “a me me encanta”, como dizem os boêmios de Andaluzia, onde sim, lá estive e não canso de sonhar... Tenho pois, um quê desse “se chorei ou se sofri o importante é que emoções eu vivi”. Mas tenho a teimosia. Eu e a minha teimosia  andaluz - por favor não leia este texto. Puxa(!), eu deveria ter dito isto antes, mas sou o resultado do que eu não disse, de não haver mandado alguns chefetes às favas, de não haver dito “eu te amo”, “fica mais um pouco”, “quero mais uma dose”, “claro que sim”...  
Sou, pois, o resultado disso tudo. Mas... - o que se passa comigo ao pensar que alguém possa estar interessado em quem sou eu?. Oh, vil semovente romano, como ousas pensar?! Não vou responder essa questão, posto que afinal, sou a imagem que o oficialismo tem de mim; sou o que pensam os que talvez gostem de mim; sou a mosca na sopa do Raul Seixas e é essa leitura que vale para o mundo-cão.
Eis, pois que, com o compromisso irremediável de não querer falar coisa-com -coisa, tropeço em (in)versos descontrutivos, por aí afora,  “pela estrada de Cintra, ao luar e ao sonho” (FP), num misto de rascunho inacabado. Leia-se: um composto químico derivado da devoção a Rui Barbosa, Fernando Pessoa e Clarisse Lispector, mas com rompantes anímicos de Maguila Queixo de Vidro e Popó sem feijoada.