quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

O pássaro...


assumi ser... desde que criança, me descobri velho... pois nasci velho, consumido por pensamentos que resultaram de uma infância sempre a espera do pior. Primeiro um pássaro, não recordo bom, de que espécie, pois manchado de negro, o sangue negro, combustível do desenvolvimento agonizava, tendo a morte à espreita, vítima de mais um derramamento de óleo, desnecessário em uma praia distante de meus pensamentos, mas perto dos sentimentos que já espreitavam meu coração. Depois, a água, anuncio apocalíptico de uma guerra que já começou. A falta dela seria anúncio, fruto do desperdício e irresponsabilidades para com as matas que qual centuriões protegem a mãe de todos os frutos, animais e vida.
Então me veio outro Antônio, o dito Conselheiro, que surgindo de um livro de história me ensinou o significado do milenarismo, e de uma cultura que implica na necessidade de um fim próximo, para que o homem perceba que realmente estamos no fim... implicando então numa política de acerto de contas, da expressão do medo... medo do incerto, do que não se afere, se vê, e que só enxerga o coração do puro de fé.
Então o anuncio do bug do milênio, de outras ditaduras que surgiram com interesses não menos escusos daqueles que lucraram com a morte do mergulhão... E percebi que a propriedade, a necessidade que o homem tem de ter, prazer engatilhado pelo desejo, querer irredutível e mundano, nos distraem do que realmente importa.
Pequenas, simples, e tão importantes para uma vida de paz, contentamento e alegria... são o que realmente nos protegem do medo do incerto, do depois, do além...
A paz que hoje habita meu peito, de jovial cidadão, pacato e contente com o pouco, me veio de uma consciência de que é preciso ter medo para sentir o abismo interior que habita todo e qualquer vivente... e que a necessidade de preencher este vazio é suprida de diversas formas.
Coisas vazias, qual carro, praia, tv, futebol... distrações vis para um homem que procura preencher a aridez espiritual e que a cada passo que dá, frustra seus anseios, pois caminha na direção contrária, pois é incoerente preencher o íntimo com algo tão concreto.
Antônio me disse em sonho, que o profeta veio, e vem todos dias para aqueles que sentem sua presença... para aqueles que perceberam que nunca o etéreo será preenchido com o etílico, de cada posse, que inebria ainda mais a mente do humano mundano.
Longe de mim, pregar a pobreza absoluta, e só entenderia desta forma estas também humanas palavras, aqueles que realmente já comeram muito pão e desfrutaram de muito circo. Pelo contrário, é preciso comer, beber, sorrir, cantar, vestir e chegar... mas não fazer disso o caminho, e sim o meio.
Continuo, jovem, rebelde, e incendiário... pois o que guardo, é a imagem do pássaro... pois por ele não pude fazer nada...
Portanto, me resigno a cantar a música do pássaro que um dia cantei em viagem ao desfrutar as privações do tempo, e a tempo, perceber na atenção e sensibilidade de uma criança a esperança no amanhã.




Dedico ao tio Manduca, pela inspiração... pois estas palavras foram fruto de uma crônica publicada na revista Artigo 5o (www.revistaartigo5.org.br) que está logo abaixo... e pela graça de ser o responsável por meu primeiro impresso...




A canção é "Pássaro Proibido" em http://youtu.be/TWWnquASxxU .