Meus remédios me fazem sentir mais gente,
gente comum, como as de hoje em dia,
quem na realidade pouco sentem,
pouco pensam e pouco vivem.
Prefiro a eternidade de um mar de loucura
de uma madrugada sem fim,
solitária,
sombria,
triste,
molhada,
nublada,
com ranger de dentes,
que viver novamente uma vida sem sentido,
sem sentimento,
sem sentir as dores da vida,
as dores do mundo,
a tristeza alheia ao olhar egoísta de alguém que rejeita a oportunidade de fazer caridade a quem com olhar mareado de cicatrizes pede com tom de vergonha, como que sentindo desprezo por si próprio...
"...mas me dá um trocado, tô cum fome tio...".
Uma vez escutei algo de alguém que carrega há mais tempo que eu o nome do santo que nasceu na capital da metrópole do antigo reino que colonizava - leia-se explorava - esta tão amada Terra de Santa Cruz, e que hoje carrega como sobrenome "de Padova". Escutei "... meu filho, nunca roubei ou matei, e por mim nunca tomaria al atitude, mas se algum dia eu tivesse visto algum de meus filhos chorando de fome, não teria pensado duas vezes e se algum dia esta necessidade bater a porta fique ciente de que ainda tenho disposição para cometer estes pecados capitais...".
Disse o homem que nunca bateu em alguém por mesquinharia apesar da miséria ter feito parte de sua vida por tanto tempo...
Mas meus remédios não me deixam sofrer,
mas não me deixam sentir a dor que poderia tornar prazer mais doce,
e os "dias bons" com céu mais azul e sol mais brilhante, morno o suficiente para aquecer o coração para uma nova paixão ou para um antigo amor...
Espero o dia em que deixarei de ser escravo da monotonia do mundo, em que não terei mais inveja dos iguais, a vez em que serei igual sendo diferente, em que darei passos largos com destino a vida que algum comprimido esconde de meu semblante cheio de maresia e com o perfume da mais bela flore do brejo...