Penso comigo mesmo, na solidão da madrugada fria e inquieta, rodeado por angústias que mais parecem vaga-lumes a rodear uma lâmpada a gás: - Tentarei ser de todo bom até o fim de meus dias, relegarei a mediocridade, que por muito foi minha meta, aos que muito querem da vida e pouco vivem.
De súbito se levanta feroz, dentes em riste, lábios famintos o lobo interior, que tal em romance do grande escritor Hesse, em o "Lobo da Estepe", me convida a 'açouguear' meu espírito, esquartejando minha prudência, matando a minha vontade de ser humano, me indagando: - Não sabes tu que o bom homem sofre e por muito paga um preço altíssimo por sua dignidade!? Estarás condenado ao limbo por toda a vida caso te entregues a esse objetivo insano.
Me resigno a responder de maneira objetiva como lente de fotógrafo profissional que prevê a imagem de sua vida no instante seguinte a que ajusta a lente para a melhor tomada: - Estou disposto a pagar o preço.
O lobo entende que a batalha de hoje está perdida e se contenta em aquiecer junto ao calor da lareira tal qual cão domado pelo amor e não pelo chicote, com tranquilidade se entrega ao conforto de uma sopa quente, se deita novamente próximo a mim e dorme ciente de que por mais que tente me convencer que o caminho mais fácil compensa, é ao meu lado, ao lado de alguém que escolheu diferente dele que se sente seguro.