terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Os Piratas da Modernidade



Crônica

Por que os piratas que existiram a mais de séculos ainda são vividos revividos e idolatrados até hoje? Simples eles eram subversivos, não aceitavam sem lutar as regras que eram impostas pelas sociedades mais ricas que dividiram os mares do mundo da mesma forma que lotearam as terras da África, Ásia, Oceania, América e até mesmo a própria Europa no pós guerras, sejam elas desde a roma antiga, segunda guerra mundial ou guerra fria. São heróis da resistência. Eles lutaram muitas vezes sem conhecer sequer um dos ensinamentos de Sun Tzu em A Arte da Guerra por livros mas aprenderam com seus corações que não se pode aceitar uma lei que não sirva a população mas sim apenas a uma classe de privilegiados. Por serem em menor número, menos preparados, menos armados e menos intelectuais, tinham de sobreviver a uma guerra travada e vencida muitas vezes na base do instinto, violência, covardia, deslealdade e características que não são inerentes a herois que em todas as histórias são vistos como na mitologia grega: filhos de deuses condenados a viver em um mundo sem entender por que foram renegados a segundo plano quando acreditavam que também mereciam viver no Olimpo. Isso são piratas, cidadãos de segunda classe. Assim como bandidos conhecidos muitas vezes por sua violência, ausência de consciencia, perversão e uma caracteristica que abala qualquer homem, ausencia de dignidade, que para quem não sabe é o direito de indignar-se, traduzo essa opinião com uma história que me é bem próxima: Lampião, o maior cangaceiro do nordeste e maior expressão da resistencia armada contra os desmandos dos dirigentes do Brasil, nada mais era que um homem que não tomava cachaça, só uisque importado, não fumava os tradicionais fumos de rolo produzidos em abundancia nas serras nosrdestinas, não fumava cigarro de palha, mas sim fumos importados refinados e que deixariam qualquer aristocrata com iveja, licores só dos melhores, não eram um homem de autoridade, mas um homem autoritário, um sanguinário. Não acredito que comparar Lampião com o famoso Robin Hood, que tirava dos ricos para dar aos pobres, deveria passar pela cabeça de alguém que tivesse o mínimo de bom senso, Lampião roubava, matava e usufruia do seu poder de comandante de maneira doentia e até mesmo psicótica. Mas vamos e convenhamos pessoas hoje nascem com todas as facilidades da vida moderna e terminam em psiquiatras, para curar pequenos traumas, ou em cadeias quando não procuram ajuda a tempo. É comum no Brasil depois que alguém morre seja santificado, lembro então de uma piada:

Estavam a mulher e o filho no velorio do pai da família, muitos se acabando em lágrimas e na hora do discurso ninguem se pronunciou a dizer as ultimas palavras antes de das a parte que cabia do latifundio do defunto. Então o padre decide começar a falar sobre o João de Deus como era conhecido. Iniciou o discurso dizendo: Jão, para os ínstimos, era um homem de fé, caridoso, não conseguia ver amigo passando necessidade que saía em seu socoro, como filho trouxe só alegrias aos seus finados pais que hoje tem a oportunidade de reencontrar esse belo fruto que deixaram na terra apenas para servir aos homens e a propagar a mensagem do Cristo, como marido não há o que dizer, sua esposa está aqui e é testemunha que nunca lhe faltou nada, nem amor nem carinho, nem paz enquanto esteve ao lado de seu fiel e abnegado marido, seu filho hoje com apenas cinco anos não teve a oportunidade de se tornar homem na companhia do pai mas os ensinamentos que este santo homem lhe deixou vão lhe acompanhar e torna-lo um homem tão bom quanto ele, e seguia o padre rasgando elogios ao finado por mais de 30 minutos, quando estava finalmente na hora de joão de deus passa a comer a terra que jogavam em seu caixão a viúva discretamente se dirige ao filho de cinco anos e pede-lhe um favor: Meu filhinho me faz um favor antes de enterrarem este santo vai ali perto do caixão e vê se é seu pai mesmo que tá aí ou se viemos no enterro errado.

Bem mas voltando ao enredo destas mal traçadas linhas, lembro que Virgulino Ferreira da Silva, com menos de sete anos de idade teve sua casa invadida por macacos, termo usado antigamente para descrever militares, que deferiram sem aviso algum tiros contra seu pai, sua mãe, seus irmãos e irmãs, naquele dia a ordem era que ninguém saísse vivo da casa de taipa que abrigava a família Ferreira, mas quis deus que por ironia do destino um pequeno garoto franzino que nem sequer entendeu o porque foi privado de sua família fosse protegido por sua mãe de um tiro que seria fatal, deixou então de ser menino, de ser Virgulino Ferreira da Silva, e a partir daquele dia se tornou, o Lampião, o maior cangaceiro, o homem que percorreu o nordeste e era como uma tempestade precedido por medo e cheiro de sangue emorte antes de adentrar em uma cidade, Sartre disse uma vez que o que importa não é o que a sociedade faz do homem mas o que o homem faz do que a sociedade fez dele. Talvez o Lampião se tivesse tido o mínimo de ajuda para superar o trauma, não tivesse se tornado o sanguinário que foi, mas infelizmente o "se" não se aplica a realidade da vida, apenas o "foi", afinal se vivermos a vida pautados em algo que podia ser e não fui estaremos fadados a viver na utopia, e desperdiçando assim o milagre que nasce junto com o sol de cada dia.

Lampião vingou-se de tudo e de todos atém mesmo de si mesmo, mas acredito que sua pena no purgatório evoluiu rapidademente com a progressão de pena, pois como o mestre Ariano Suassuna descreveu no Alto da Compadecida: "... Virgulino você não precisa defender João Grilo, ele foi instrumento da cólera de Deus contra a opressão sofrida pelo povo nordestino, meu filho (referindo-se a Lampião) disse que ele poderia se dirigir a direita que ele estava salvo...), bem literatura a parte ninguém pode afirmar plenamente que Lampião já foi absolvido por seus pecados mas uma coisa é certa, o mesmo Jesus negro que o absolveu e que segundo Chicó "...era escurinho pois o Céu ficava lá pras banda da Bahia..." sofreu umilhação que daria piedade e compaixão suficiente a qualquer pessoa comum para perdoar o mais mortal dos pecados de alguém que teve sua vida ceifada antes mesmo dela começar.
Bem mais o intuito dessa crônica não é de tratar de peronalidades, defender, inquirir ou julgar alguem que dispensa julgamentos e que não esta entre nós para se defender e sim de tratar de algo muito mais enraizado na nossa sociedade do que a historia de Lampião.
Pirataria, o ato de assistir um filme pirata, para muitos hoje é um crime que não tem perdão, vivemos na sociedade da intolerância, e se você não tem dinheiro para usufruir da arte você não é digno dela. Bem a sétima arte nunca foi tão popular desde que os fundos arrecadados por filmes produzidos no esterior foram desciados para um grupo de criminosos que não atuam em função de uma ideologia e sim em função de uma lacuna na sociedade, pode -se comparar a pirataria com as drogas, o crime organizado, o jogo ilegal, o tráfego de armas, o contrabando de produtos importados, sim podemos, mas como diria Che se fosse defender a pirataria : "Si pirateamos? pirateamos! Se continuaremos continuaremos a piratear? Si continuaremos a piratear!", bem Chê não está mais entre nós e quem para uns poucos pobres ('campesinos' como o próprio doctore argentino hablava) que eram massacrados pelo exercito de Batista em Cuba era um herói, e para outros que eram soberanos mundiais do consumo era um terrorista, podemos ver que toda história teve dois lados. Nenhum meio de comunicação tem coragem de fazer uma pesquisa indagando o cidadão quantos filmes ele assistia por ano a 20 anos passados e quantos ele assiste hoje e o motivo desta covardia é que seria reconhecer que a pirataria de filmes assim como a tipografia de "Gutemberg" popularizou como os livros a sétima arte, mesmo assim tenho um conselho pra você amigo que desfruta da sétima arte em função da pirataria, não se preocupe, a liberdade está do nosso lado, quando a fiscalização do Brasil for suficientemente forte pra reprimir de maneira irreparável o mercado da pirataria, já será o tempo que não precisaremos criar provas como contra nós mesmos, pois quando este dia chegar, termos conexões de internet populares de alta velocidade, e será possivel baixar um filme em menos de 30 minutos com qualidade melhor que a do DVD. E o melhor de tudo sem ao menos precisar sair de casa para faze-lo. Então paciência irmão a ciência está do lado da cultura e a cultura sempre estará ao lado dos cidadãos de bem.

Sem mais,

Antonio Mooraes Filho

Fumando - Parliament
Bebendo - Café com leite
Ouvindo - Chico Science 'Banditismo por uma Questão de Classe'
Assitindo - Orquestra Manguefônica 'ao vivo'