E se Hoje, subitamente, a voz do abismo falasse,
Trazida pelo amigo, irmão, ou a mão que me odiasse,
Ditando o decreto que silencia o nosso Encontro?
Que meus olhos jamais teriam o teu Contorno,
Que o calor dos meus braços seria um Vazio,
E o meu Cheiro, no teu Éter, um frio desvio?
Ah, a Inconveniência que te causava rubor,
E o Desconcerto público da minha falta de primor,
Seriam, de agora em diante, a Saudade mais cruel!
Não mais a insistência da mensagem ao teu céu,
Nem o despertar brusco pela minha voz em desalinho,
Mas o eco seco de um telefone no caminho.
Nem a Dor, nem o Suor, nem a Gástura ou o Prazer,
Nada da nossa Visceral Humanidade irias refazer.
Nenhum dia ou noite tecidos em conjunto,
Nenhuma ausência breve, nenhum perdão conjunto.
E se a estrada, que era pó nos nossos pés unidos,
Se partisse ao meio, em caminhos desunidos?
Se a Comunhão da Mesa, o pão, o vinho, o olhar,
O Banho na mesma Linfa, a Toalha, o mesmo Par,
Não fossem mais que Desejo, que Sonho, Vã Vontade?
Onde se aloja, então, a restante Verdade?
Diz-me: Sob o Peso deste Fim, o Amor ainda vive?
Por quanto Tempo, Alma, o meu Espectro te cativa?
Por quantas Luas a tua Fronte se Recusa a Outrem?
Em quantas Noites a Dor será o lençol que te detém?
Chorarias por quantas Horas, a conta feita em pranto?
E em quantas Covas enterrarias este Pesar e Encanto?
Quando, finalmente, o teu peito se abriria para a Luz?
Quando a Ferida, que te deixei, a alma não mais seduz?
Quando a Sombra pararia de exalar o meu Cheiro,
E Morfeu deixaria de povoar teu Sonho derradeiro?
Quando a Paz voltaria a habitar teu Templo?
E Quando? E Como? A Pergunta que arde e consome.
E se o Hoje fosse a Letra Final do nosso Nome?
Esta Súbita e Arrebatadora...
... Mensagem.

